OPINIÃO

Torcida Jovem: a Zona Sul nos anos 90

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O Bar do Nico é o nosso Museu da Pessoa. Reduto de alvinegros, brancos e pretos!

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Tocida jovem do Santos na zona sul de São Paulo (Foto: Acervo pessoal Fernando Ferrari)

Reduto de Alvinegros, Brancos e Pretos.

Encontramos ideias que revive de resultados desastrosos do Santos nos anos 90, delírio amargo, desde aquele gol de Canela do Serginho, autêntico 9.

De encontros incompletos por seguir numa longa fila, surge o grito de re-existir.

Sobreviventes de um período marcado pela violência para além das tretas entre símbolos, os anos 90 marca o período do bonde que viveu e sobreviveu no bairro considerado o mais violento do mundo pela ONU entre 1994 à 1997. Outros carnavais foram também, porém não mapeado. 

Nesta época ver corpo aos domingos era a diversão inconsciente da quebrada, que até hoje nega nosso acesso a educação, nega nosso passado e nos tira da linha dos livros, para não questionarmos essa estrutura Colonialista, de pagar pau pra Cultura do Europeu, do outro, e tirar de baixa cultura o conhecimento ainda guardado em nós, aquele que os nossos do passado deixaram no nosso DNA de Periféricos! 

Reduto de lembranças, uma biblioteca imaterial de oralidade, pela palavra afetiva nos reencontramos, base da nossa ancestralidade de avós, bisa e tataravós indígenas, quilombolas e do Povo que fundou São Paulo e não usufrui da sua riqueza material, porque o plano ainda é colonizar nossa liberdade! 

Fizemos e fazemos a nossa educação, desde os anos 90, se politizando com o filho da Dona Ana (Pedro Paulo, Mano Brown ), igual a Dona Maria Vilani faz com os seus no Grajauex, só quem é da ponte pra cá sabe! Muita treta pra Vinicius de Morais, e esse é a treta, por chegar mais perto do Povo, com seus poemas pós Semana de 22…o que atualizou nossa identidade de brasileiros e brasileiras, fazendo a favela cantar seus cantos Afro-Sambas com toques de Baden Powell, corpos que decifram nossa identidade.

Lá você revive a Rua 21, Capão Redondo (Nossa Senhora do Carmo ), Araribá, Ingá, Ipê, Bonde Salva Vidas do Ângela (busão alugado que fez vários voltar em paz pra goma), São Remo, Pirajussara (os loukos iam pela Saad, entrada de adversários), Cupecê, Grajaú, Cidade Dutra, Sabará e Jabaquara.

O foco la é rir das ausências, de vitórias de uma década, rever fotos, tirar os nossos canhotos e caravanas mofadas das gavetas, igual um poema da nossa Madrinha, Cordão Vai-Vai de Geraldo Filme, do córrego da Saracura ao Hino das Escolas de Samba, no Silêncio do Bexiga, guardado em nós, sem placa de bronze, ainda inédito para geração 2002. Relembrar o grito guardado, uma geração de Pérola Bayton. Suor embaixo do Maior Bandeirão da Época, voltas a pé do Morumbi. 

Nossos encontros eram como um milagre, pela ausência de crescimento da Torcida Santista pós era: Pelé, Coutinho, Pépe, Mengálvio e os filhos de Índios e Escravos de ontem. 

Pegamos a Era que ver um Santista na rua era motivo de alegria, mídia escrita com tiragens de duas, três linhas na Gazeta Esportiva (Maior Jornal Esportivo da Época) era o máximo, na Mídia Elitista, uma vez por semana, boicote total, ao time que aceitava negros com seu manto sagrado, no início do século XX, time que acolheu o Menino Edson vindo de Bauru, que teve seu rebento em Três Corações. Menino com sangue de uma família de geração de escravos, fato de pós luta contra escravidão, do povo tomar o Esporte Inglês da mão da elite branca europeia, inspiração de contra ataque com os que lutaram contra a escravidão no país: Luis Gama, Baiano, Rebouças, Dragão do Mar, Quilombo Jabaquara de antes Dandara e Zumbi, Tribos Indígenas que Resistiram à Escravidão e entrega do seus Territórios, outros abolicionistas e Revolucionários, talvez isso nos tornou um time pra frente, time do Povo! Time parou guerra, e que em 26/09/1969, funda em plena Ditadura Militar a Torcida Jovem, no Brás, no reduto de imigrantes pobres pós segunda guerra mundial .

Sempre com o foco na ousadia, dos dribles de um time leve e de contra ataque, método que nos faz o primeiro Time do Mundo a ter 10 e agora 12 mil gols. Lutamos como Torcida Jovem pela Anistia, pela volta dos que pensavam nossa real identidade e liberdade económica, diretas já!

Ajudamos a acabar com o momento autoritário que trouxe a repressão de não poder participar como Brasileiros dos rumos do país. Construímos a Constituição Cidadã de 1988, essa que após escrita foi roubada e está sendo apagada até agora.

Lembro da alegria do encontro, era como ver um parente distante, só futebol traz esse momento. Ver nosso bonde de camisas brancas era um sonho impossível, fomos a voz da Resistência nos anos 90, levamos nossos corpos a riscos que já vivíamos ao ver Opalões pretos nas madrugadas da zona sul sem sentimento.

Hoje, estar nesse Bar é como ir no Museu da Pessoa, lembrar milagres de irmãos de 25 anos de torcida que ainda cantam Saaaaantos. É um ato histórico do futebol Latino Americano e Mundial. Somos campeões mundiais de memória, verdade e honra!

Somos a Torcida Jovem do Santos.

Um salve do Fernando Ferrari , o Nando do Bonde do Capão de 1992.

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