Entrevista

O Menino do Drone: robô muda forma de jovem viver e enxergar as quebradas

Edição:
Ronaldo Matos

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Inspirado pela composição “Levanta e Anda” do rapper Emicida, o Menino do Drone faz da trilha sonora de sua vida uma constante vivência com o som dos ventos e pássaros que ocupam os céus das periferias de São Paulo. 



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Crianças participaram de oficina de Drone ministrada pelo jovem Marcelino. (Foto: Léu Brito)

Em 2015, Marcelino Melo, mais conhecido como Menino do Drone, morador do Jardim Piracuama, bairro do distrito do Campo Limpo, zonal sul de São Paulo, recebeu um seguro de vida pelo falecimento do seu pai e partir deste momento ele ficou imaginando como iria gastar esse dinheiro.

A primeira coisa que veio em sua mente foi comprar uma moto, sonho de consumo de muitos jovens da quebrada. Porém, ele percebeu que essa opção só iria trazer mais gasto. Engajado em fazer um uso consciente dos recursos obtidos nos seguro de vida de seu pai, o Menino do Drone passou a pesquisar equipamentos conectados com o seu apreço pela fotografia.

Nesse processo, ele chegou até o anúncio de um Drone em uma plataforma digital especializada na venda deste tipo de produto. Mesmo sem saber mexer no robô que produz imagens aéreas e dispõem de uma série de tecnologias de georreferenciamento de dados, o interesse pela arte de fotografar falou mais alto na hora de decidir a compra do equipamento.

“Eu passei um tempo pesquisando o que eu ia fazer, e cheguei a um cara vendendo um drone em um desses sites aí, e era muito mais caro que o dinheiro que eu tinha na verdade. Aí eu chamei o cara, negociei um monte, até que ele aceitou o dinheiro que eu tinha e enfim, comprei”, relembra Marcelino sobre o processo de aquisição do seu primeiro Drone.

Após a compra, o jovem ficou alguns meses sem mexer no robô de imagens aéreas, porque não dominava os processos de pilotagem. Ele relata que antes de comprar o equipamento ele só tinha visto algo igual apenas uma vez na sua vida. Mesmo assim, ele resolveu se aventurar mexendo nas funcionalidades do Drone até encontrar o simulador de vôo.

A partir deste momento, o jovem começou a perder o medo e foi tentar pequenos vôos na quebrada. “Eu comecei a voar nesse simuladorzinho e pensei se eu bater aqui ta de boa, porque não é de verdade… até eu tomar coragem”, conta Melo detalhando o processo de aprendizagem.

Quanto mais o Menino do Drone aprendia a voar, mais ele ia atrás de informação, como entender as leis de regulamentação do Drone e produção de imagens aéreas, por exemplo, que estava sendo implementada no Brasil à época.

Em 2017, a ANAC (Agência Nacional de Aviação) aprovou um regulamento especial para utilização de aeronaves não tripuladas, popularmente chamadas de Drone, com o objetivo de tornar viável a segurança desses equipamentos e preservando a segurança das pessoas.

Depois de aprender um pouco de tudo, Marcelino entendeu que apenas voar não era mais o seu objetivo. Ele queria agora tentar traduzir toda a grandiosidade que a periferia tem e fazer com que a pessoas se enxerguem grandes também.

“O Drone é mais que uma tecnologia né. É mais que uma visão de cima. Eu posso tá em uma quebrada deserta, se eu subir um Drone já percebo ao redor que fica um monte de curiosos querendo ver e dá pra enxergar esse sorriso nas pessoas de se entender e se ver grande”, afirma o Menino do Drone.

Por enquanto, seu maior meio de divulgação de suas fotografias é pelo Instagram, mas conta que já pretende expor suas fotos em outros lugares, para que também consiga chegar a espaços físicos. E diz que ainda está elaborando esse projeto, mas em breve terá novidades.

“A primeira foto de drone que postei no Instagram me chamou a atenção um monte de caixa d’agua azul. Na foto tinha umas 200 caixas. Eu gosto muito dela porque foi ali que entendi como fotografia sabe”, relembra.

Melo não recorda com exatidão a época que ganhou esse apelido, mas lembra da ocasião, na qual um amigo o chamou pela primeira vez do vulgo Menino do Drone. “Chegou um cara e falou: ‘e aí Menino do Drone’ e pensei que de repente isso é uma coisa boa né.”

Hoje em dia, além de atuar com produção audiovisual de filmes, clipes de música, principalmente de rappers, o jovem desenvolve um trabalho de educador na Fábricas de Cultura do Jardim São Luís, onde ministra oficinas para jovens e crianças.

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