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Músico do Jardim Ângela difunde tecnologias sustentáveis pelo Brasil a fora

Edição:
Redação

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A iniciativa começou com a criação de um laboratório de tecnologias sustentáveis e funcionais, que funciona dentro da casa do músico e inventor Fábio Miranda, no Instituto Favela da Paz, localizado no Jardim Nakamura, zona sul de São Paulo. Hoje, as tecnologias produzidas por ele são exportadas e compartilhadas com moradores de outras periferias e projetos de preservação do meio ambiente.

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Jovens replicando o método de construir o biodigestor na comunidade ribeirinha do Rio Tapajós. (Foto: Projeto Saúde e Alegria)

Com o celular na palma da mão, o músico e inventor Fábio Miranda consegue controlar de qualquer lugar do mundo via conexão wi-fi as tecnologias que ele mesmo desenvolveu dentro do LAB Periferia Sustentável, um laboratório de energias renováveis e funcionais que ele começou a criar em 2010, no Jardim Nakamura, na zona sul de São Paulo.

Para ele, o celular é uma tecnologia que pode ser utilizada em tudo hoje, mas de maneira consciente. Ao deixar clara a sua preocupação em equilibrar o uso da tecnologia em sua vida, o músico recorda o processo de criação do LAB Periferia Sustentável, iniciativa que está cercada por uma vizinhança formada por moradores e moradoras do Jardim Nakamura, público que o músico está aos poucos mostrando outras possibilidades de consumo e produção de energias, para além da cultura de usar gás de cozinha e luz elétrica.

Em 2010, Miranda viajou à Europa, para conhecer projetos de energias renováveis desenvolvidos pela Comunidade de Tamera, uma entidade sediada em Portugal, que tem o objetivo de construir um novo jeito de consolidar as relações humanas, a partir de questões sociais, econômicas, políticas e afetivas.

Fábio Miranda ministrando o curso Seja Sustentável com a tecnologia arduino no Lab Periferia Sustentável.

“Por que isso não está na minha comunidade? E por que essas tecnologias estão distantes da quebrada?”, foram esses os primeiros questionamentos do músico consigo mesmo ao ter algumas experiências com os projetos de tecnologia sustentável e energia renovável que conheceu por lá.

“Tamera foi a minha faculdade orgânica”, diz Miranda, retratando a sua consideração pelo lugar e estado espiritual no retorno ao Brasil. Ele chegou ao Jardim Nakamura se sentindo capacitado e cheio de energia para desenvolver essas tecnologias no Instituto Favela da Paz, uma organização social que fomenta projetos inovadores à base da cultura de paz, alimentação saudável e produção musical independente, na qual ele já trabalhava antes de criar o laboratório.

“Eu fiquei de 2010 a 2015 viajando o mundo e aprendendo essas tecnologias”, conta o inventor. Ele reforça que as ações articuladas pelo Instituto Favela da Paz ganharam relevância internacional, e a partir disso, os projetos da organização o conectaram a comunidade de Tamera, em Portugal.

Em 2013, Miranda construiu o primeiro biodigestor da quebrada. “A gente transforma aquilo que as pessoas chamam de lixo em uma fonte de energia que é o biogás”, afirma, citando que a matéria prima utilizada no biodigestor vem de restos de alimentos que são descartados pelo projeto Vegearte, umas das iniciativas do instituto, que difunde a cultura da alimentação saudável entre os moradores do bairro.

Ele considera o biodigestor como uma das tecnologias mais importantes já construídas pelo LAB Periferia Sustentável, devido ao seu impacto direto na vida dos moradores das periferias. Um exemplo desse impacto é viagem do inventor até a Amazônia, para ministrar um curso de construção de biodigestor para um grupo de jovens mulheres. Lá, ele apresentou o passo a passo para desenvolver essa tecnologia de energia renovável.

Jovens da comunidade ribeirinha à beira do rio Tajajós mostrando aos moradores o processo de construção do biodigestor.

O resulto desse processo foi ele ter recebido um relato das jovens amazonenses que passaram pela formação, dizendo que estavam usando gás de cozinha gerado pelo biodigestor. E como a comunidade era ribeirinha, o botijão de gás chegava a custar 150,00, devido ao acréscimo de transporte pelo rio tapajós. Mas a partir do domínio de construção do equipamento, diversas famílias já estavam economizando esse valor para gastar com outras necessidades.

Hoje, as jovens que participaram da formação ministrada pelo inventor no Centro Experimental Floresta Ativa, localizado na comunidade ribeirinha da Reserva Extrativista Tapajós – Arapiuns, no Amazonas, estão dando oficinas de sistema de biodigestão dentro do projeto, impactando outros jovens e adultos, para difundir essa tecnologia de energia limpa.

Novas Tecnologias.

A admiração de Miranda pelas fontes de energia limpa e a sede de conhecimento, que o acompanha desde sua vivência na comunidade de Tamera, o tornou um entusiasta das tecnologias abertas (Open Source).

Em boa parte dos seus projetos, ele usa a plataforma e placas de Arduino, para programar e automatizar os sistemas de energia solar, irrigação de horta vertical e biodigestão, que estão acessíveis a qualquer pessoa que freqüenta o seu laboratório.

O uso do arduino foi ressignificado pelo inventor, ao se tornar a base para fundir as tecnologias de energia limpa com a internet das coisas. Desta forma, ele liga e desliga os sistemas, além de acessar dados e indicadores que mostram o estado de funcionamento dos equipamentos pelo celular.

“Eu posso baixar o software de uma placa arduino e construir o meu próprio sistema. E partir disso criar um robô usando essa tecnologia”, afirma ele, ressaltando que a sua missão dentro do projeto, independente do seu grau de instrução, que contempla diploma de ensino médio completo e as vivências na música, é demonstrar para qualquer pessoa que ela tem a capacidade e a criatividade para produzir tecnologia.

A partir desse e de outros conhecimentos, o inventor desenvolveu o curso Seja Sustentável, um meio de compartilhar os seus aprendizados por meio de workshops e palestras que ele ministra em diversos espaços, como unidades da rede SESC, organizações sociais nas periferias de São Paulo e de outros estados, como a comunidade ribeirinha do rio Tapajós.

Parte do laboratório de tecnologias sustentáveis foi construída com apoio da Fundação Fenômenos, organização que reconheceu a importância do trabalho do inventor e apostou na sua aptidão para gerar impactos positivos nos moradores das periferias, a partir das suas invenções que mesclam o cuidado com o meio ambiente e novas tecnologias.

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