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Fake News: acesso à direitos vira armadilha para moradores da quebrada

Edição:
Ronaldo Matos

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Com a rotina alterada pela pandemia de covid-19, o novo coronavírus, moradores das periferias vem relatando uma série de golpes realizados por meio do contato com notícias falsas no Whatsapp. Uma dessas moradoras é Silene Alves, que reside no território do Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo. Em entrevista ao Quebrada Tech, ela conta como quase caiu no golpe do Auxilio do FGTS e as suas próprias estratégias para não cair mais em armadilhas para roubo de dados pessoais e informações sigilosas.



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Atenta ao celular, Silene Alves costuma falar com parentes para saber seu estado de saúde. (Foto: Vitoria Guilhermina)

Durante o isolamento social, Silene Alves, moradora do Rio Pequeno, zona oeste de São Paulo, está afastada de sua rede de parentes e amigos mais próximos, causando um afastamento não só físico, mas também afetivo das pessoas que ela costumava ter a sua volta. Com isso, a troca de mensagens por meio de aplicativos acaba se tornando uma das principais formas dela se reconectar com seu ciclo de amizades.

“A única forma que a gente pode estar junto agora com familiares e amigos é através da rede social né, então é isso que to fazendo”, conta a moradora. Ela enfatiza que sua maior motivação para manter uma comunicação contínua com a família é para saber o estado de saúde de parentes.

“Lá pro Ceará, pra minha mãe, pras minhas irmãs eu ligo direto, toda noite, todo dia eu ligo para ela, mas é ligação mesmo e falo pelo Whatsapp também”, descreve ela, afirmando que momento antes de iniciar a entrevistas estava falando com uma irmã minha pelo aplicativo de troca de mensagens.

Em umas dessas conversas com uma de suas irmãs que moram no Ceará, Silene foi surpreendida com mensagem sobre o auxilio do FGTS. “Tava falando que nosso FGTS tava liberando um auxílio para nós de 1.050, ai eu perguntei pra minha irmã de quem ela tinha recebido isso, e ela falou: foi outra pessoa que mandou pra mim”, relembra Alves, que tem esse momento marcado na memória até hoje, pois ela fez questão de ir atrás da informação.

“Eu entrei no Facebook e tava lá mesmo. Tinha um negócio lá da Caixa falando que eu tinha direito aos 1.050”, afirma Silene, abordando o processo para descobrir a procedência da notícia falsa que ela recebeu em seu Whatsapp. Ela fez questão de acessar o link para saber quais documentos seriam solicitados para receber o beneficio. “Pediu meu CPF, pediu meus dados e outras coisas, mas eu falei não, isso aqui não vou entrar não. Pediu meu CPF e meus documentos eu já fico com pé atrás”.

Após a experiência frustrante de esclarecer que não havia beneficio liberado em seu nome, Alves contou com mais detalhes o fato ocorrido para sua filha em casa. “Eu mostrei para minha filha e falei: vê isso aqui pra mim que parece que tenho direito e ela olhou e falou: isso não é seguro não”.

Após sua filha mais nova confirmar suas dúvidas, Silene mandou uma mensagem para sua irmã novamente falando sobre a mensagem que recebeu dela, ressaltando que não seria possível acessar nenhum beneficio do FGTS por meio daquele link.

Embora a moradora do Rio Pequeno tenha quase se tornando uma vitima de notícia falsa, no site oficial da Caixa Economia Federal, o comunicado é direito e bem claro: “O pagamento do Saque Emergencial FGTS será realizado exclusivamente por meio de crédito em Poupança Social Digital, aberta automaticamente pela CAIXA em nome dos trabalhadores. A movimentação do valor do saque emergencial poderá, inicialmente, ser realizada por meio digital com o uso do aplicativo CAIXA Tem, sem custo, evitando o deslocamento das pessoas até as agências”.

O site destaca ainda que o Saque Emergencial FGTS foi autorizado pela Medida Provisória nº 946 de 07/04/2020, dando o direito de saque a todo titular de conta do FGTS com saldo, incluindo contas ativas e inativas, no valor de até R$ 1.045,00 por trabalhador.

Dois dias depois, Silene ainda estava pensativa sobre ocorrido e decidiu ir até uma agência da Caixa Econômica para realizar algumas transações bancárias e resolveu confirmar suas desconfianças. “Eu peguei e mostrei pra moça da Caixa Econômica e ela falou que era coisa errada, aquilo não existia. Aí falei: menos mal”, relata ela.

A maior fonte de pesquisa para verificar se as informações que recebe são ou não falsas vem de suas filhas mais novas que residem em sua casa. Silene diz que um dos maiores fatores para confiar no faro das filhas para descobrir se uma notícia é falsa ou não é o fato de acreditar que as fake news fazem parte de uma cultura da geração das filhas, e por isso entende que elas têm maior facilidade para interpretar a informação. “Eu não tenho essa velocidade que vocês têm com 18 ou 20 anos, para entender de comunicação nas redes sociais, então a gente é um pouco atrasada, nós não tivemos essa vida de ter celular na mão”.

Ela enfatiza que o fator geracional de crescer com um celular na mão faz toda diferença para compreender a estrutura dos golpes digitais e das notícias falsas. “Como eu não fui criada com essa comunicação mais rápida, eu sou um pouco mais atrasada. Eu entendo também, não 100% como os jovens”, conta Alves, ressaltando que mesmo assim, ela não se limita a utilizar o celular da maneira que consegue e com os aplicativos que ela tem mais afinidade.

Fake News: “Eu recebo de vez em quando”

A ferramenta que Silene mais utiliza no celular é o Whatsapp. Segundo ela, é neste aplicativo onde recebe o maior número de notícias falsas “Eu recebo de vez em quando, não diariamente, mas de vez em quando aparece uma mensagem pra mim que a gente tem que compartilhar com dez pessoas pra ganhar não sei o que, ai fica nessa coisa né”.

“Esses dias mandaram no Whatsapp também uma conta que diz que a gente tem direito a cesta básica, só que pra eu ter direito a essa cesta básica eu tinha que mandar uma mensagem pra dez contatos”, relembra ela, afirmando que esse tipo de mensagem está servindo para ativar a sua cultura da dúvida durante os momentos que está usando o aplicativo de troca de mensagens.

Ao receber essa mensagem, Alves questionou a emissora. “Achei meio estranho, então eu perguntei para moça se era seguro e ela falou: ‘Silene eu não sei se é seguro, mandaram pra mim’. Então eu falei esquece que não vou ficar mandando essas coisas pras pessoas que fica meio chato”, conta a moradora.

Silene finaliza dizendo que suas maiores dificuldades com o celular não está conectada com a compreensão das funcionalidades dos aplicativos, mas sim com a organização e compreensão de um grande volume de informações que precisam ser filtradas como verdadeiras ou falsas.

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