Entrevista

Felizs impacta estudantes da periferia com debate sobre educação e literatura periférica

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Roda de conversa, realizada na E.E. Francisco D’amico, contou com a presença do escritor Ferréz e do poeta Binho.

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Bate papo com estudantes sobre Literatura e Educação com o autor Ferréz. (Foto: João Victor Santos)

Na manhã desta quarta-feira (14) ocorreu mais um encontro literário da programação da III Feira Literária da Zona Sul (Felizs) na Escola Estadual Francisco D’amico, localizada no Jardim Saporito, na cidade de Taboão da Serra. A atividade teve como convidado o escritor, rapper e fundador da marca 1DASUL Ferréz, que conversou sobre a realidade do território periférico sob a perspectiva da literatura junto ao poeta Binho e aos estudantes da escola, que realiza saraus com seus alunos há cerca de 5 anos.

Organizada pelo Sarau do Binho, a Felizs, que teve sua primeira edição em 2015, surgiu e segue com o objetivo de disseminar e valorizar a literatura periférica e os movimentos culturais e sociais da zona sul de São Paulo. Esse ano, em sua terceira edição, a Felizs vem com uma programação extensa e rica em conteúdo e convidados, seu encerramento acontecerá no dia 23, na Praça do Campo Limpo, com muitas intervenções culturais.

Propondo a literatura marginal como ferramenta na educação dos jovens da rede pública de ensino, a Felizs leva esse tema exclusivamente para dentro da escola, ambiente protagonista na transformação da realidade do jovem periférico, como afirma Binho, um dos organizadores do evento. “Eu acredito que dentro das escolas nós podemos fazer um trabalho melhor em conjunto com os alunos, é uma troca de saberes, e eu acho que a escola é um ambiente bacana para os alunos se expressarem.”

De acordo com o escritor Ferréz, mesmo a escola seguindo os parâmetros do Estado ela deve adotar outras maneiras de ensinar. “Eu sei que tem o ensino formal do Estado e do governo, mas você tem que achar brechas para dar também o que as pessoas gostam, o aluno quer ler, ele quer informação, só temos que cativar, mas eu entendo que os professores possuem poucas ferramentas, mas eles têm que burlar o Estado, de todo jeito, e isso aqui é uma amostra que dá para burlar. Estamos num pátio de uma escola, falando de poesia e literatura, de abrir a consciência, então isso aqui é uma amostra que temos cultura e que podemos transformar a educação.”

Os alunos vêm percebendo que logo após a introdução dos saraus culturais e da literatura periférica na escola eles adotaram um outro olhar para o território em que vivem e para o papel deles na sociedade, como conta a estudante e poetisa Nicoly Soares: “Eu acho que o mais perceptivo foi a representatividade, porque nós fomos acostumados com a literatura que não fala sobre nós, as vezes até fala, mas não sobre as peculiaridades da periferia.Ela não está falando de nós, até porque não é de nossa época, nem está em nossa linguagem. Eu realmente não entendo o que eles estão falando. Trazer pra escola uma literatura produzida pelo meu vizinho, alguém que tem uma vivência parecida, isso é libertador e representativo e é essa a diferença da literatura convencional para a literatura marginal: eu faço literatura e poesia, o Ferréz faz literatura e poesia, falamos de nós, do nosso ponto de vista e estamos no mesmo patamar que Carlos Drummond de Andrade.”

Resta agora aos agentes de educação adaptarem os conteúdos didáticos passados aos jovens das escolas da periferia, deixando-o mais próximo de sua realidade e mostrando uma outra cultura, a que se dirige a eles, aproximando e melhorando o desempenho dos mesmos dentro da sala de aula e na comunidade em que vivem, como disse Ferréz durante a roda de conversa: “A escola tem que se apropriar dessa literatura, pois é muito mais fácil chegar para um aluno e por Pânico na Zona Sul, dos Racionais, do que o obrigar a ler Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. É a mesma coisa, a mesma história: o cara morre no começo e começa à contar a vida dele, só que o aluno vai se sentir mais próximo do rap e da sala de aula”, finaliza.

O exemplo da escola Francisco D’amico mostra a real mudança que está acontecendo na periferia e que impacta diretamente a educação da juventude. Exemplos de escolas, como a citada acima, deixam de lado o conservadorismo cultural do Estado e rompem com as barreiras do atraso histórico-educacional que existe no sistema público de ensino no país.

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