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Centro de Estudos Periféricos publica medidas de combate ao coronavírus nas periferias

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Motivados pelo objetivo de produzir conhecimento para garantir o bem estar da população que reside nas periferias e favelas, o Centro de Estudos Periféricos, iniciativa composta por um grupo de pesquisadores que atuam junto ao campus da Unifesp na Zona leste de São Paulo, preparou uma série de medias que podem orientar representantes do poder público a amenizar os impactos da pandemia nos bolsões populacionais das grandes cidades. 



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Brasilândia, zona norte, São Paulo, 2017. (Foto: DiCampana Foto Coletivo)

Atento aos impactos da desigualdade social que afeta historicamente a vida de quem mora nas periferias, o Centro de Estudos Periféricos (CEP) publicou nesta segunda-feira (30) um documento no qual um grupo de pesquisadores acadêmicos que produzem conhecimento a partir dos territórios periféricos, orienta representantes do poder público, através de uma lista de medidas urgentes para serem adotadas e implantadas para contenção da pandemia de coronavírus nos territórios.

Segundo Tiaraju Pablo D’Andrea, professor da Unifesp e coordenador do (CEP), o centro de estudos está disposto a atuar em parceria com representantes do poder público para superar os efeitos da pandemia nos territórios. “Em momentos como esse, todas as organizações da sociedade civil devem estar dispostas a contribuir para formulação e implantação prática de soluções”, afirma o pesquisador.

Ela ressalta que não há uma confiança nos representantes do poder público municipal, estadual e federal, no entanto, como uma organização da sociedade civil, é um dever do centro de estudos contribuir com soluções para combate ao coronavírus nas periferias e favelas. “Estamos dispostos momentaneamente a se aliar com governantes e representantes do poder público para contribuir com soluções que evitem a propagação da pandemia nos territórios.”

Enquanto os equipamentos públicos de saúde localizados nos territórios periféricos da cidade de São Paulo demonstram incapacidade técnica e estrutural para atender a população, como falta de equipamentos de proteção para médicos e enfermeiros, número insuficiente de leitos hospitalares equipados com UTIs e ventiladores pulmonares para respiração, o avanço do número de casos de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, não para de crescer.

Junto a esse cenário, uma sensação de não saber ao certo o real impacto da pandemia, toma conta das pessoas pelo fato de não haver uma quantidade de testes suficientes para diagnosticar o número real de infectados pelo vírus.

Consciente da importância do Estado para criação de políticas públicas emergenciais para combater a precarização dos direitos sociais, como equipamento públicos de saúde e a geração de renda e emprego, o pesquisador alerta: “se a gente somar as condições sanitárias, ambientais e econômicas da população moradora de periferias e favelas, a gente pode prever um cenário bastante catastrófico nas próximas semanas”, avalia ele.

Para reduzir ao máximo o número de mortes causadas pelo coronavírus nas periferias, Tiaraju enfatiza que nesse momento, o Estado precisa garantir que o morador da periferia não saia de casa para trabalhar, dando a ele uma renda suficiente o bastante para manter sua família. “A gente precisa de um estado que solicite à população que faça quarentena. Mas esse mesmo estado deveria ajudar as pessoas mais pobres com ajudas estatais. Isso veio de uma forma muito tímida e abaixo do valor que as pessoas precisam,” comenta ele, fazendo uma referência ao valor de R$ 600 aprovado pela renda básica emergencial, que ainda depende da assinatura do presidente Jair Bolsonaro.

O pesquisador encerra a entrevista lembrando a importância dos moradores das periferias se organizarem em redes de apoio comunitário para impedir o avanço da pandemia. “Solicitamos as populações das periferias que tomem essa atitude e que se unam em redes de solidariedade com ou sem o apoio dos governantes, para diminuir o impacto da pandemia de coronavírus nos territórios.”

Confira a lista completa de medias para conter a pandemia.

• Montagem urgente de hospitais de campanha nas escolas e terrenos ociosos das quebradas;

• Distribuição de água com a disponibilização de caminhões pipas para regiões que não tem saneamento básico;

• Distribuição gratuita de kits de higiene, limpeza e prevenção (álcool gel, álcool líquido, sabonetes, toalhas, escovas de dente, pastas de dente, máscaras);

• Suspensão da cobrança de contas de água e luz;

• Suspensão da cobrança de parcelas e juros de financiamentos em geral, incluindo as famílias com dívidas com a Caixa;

• Suspensão da cobrança aluguéis residenciais e comerciais;

• Congelamento do preço do botijão de gás e dos alimentos da cesta básica;

• Compra de itens de primeira necessidade dos comércios de bairro, por parte do poder público, para distribuição gratuita nas quebradas;

• Rápida liberação dos recursos da renda mínima para trabalhadores/as informais e desempregados;

•Manutenção da distribuição de merendas nas escolas nas regiões mais pobres;

• Campanha de conscientização mais amplas, com carros de som, músicas e vídeos que dialoguem com as quebradas;

• Não à policialização da situação, evitando o aumento do encarceramento;

• Não ao isolamento vertical. Nas periferias, diversas gerações da mesma família dividem a mesma casa ou o mesmo quintal com frequência. Quem tiver a obrigação de sair pra trabalhar, vai certamente trazer o vírus para casa;

• Reforço às medidas de proteção para quem trabalha em setores essenciais, como transportes, supermercados, feiras livres, farmácias, fábricas, abastecimento, entre outros;

• Transferência de pessoas que fazem parte dos grupos mais vulneráveis para quartos adequados de hotéis disponibilizados pelo poder público.

• Descentralização dos kits de teste do centro para os bairros de periferia em UPAs e UBS, com orientação e insumos para o gerenciamento de casos menos graves. Essa medida evitaria também deslocamentos desnecessários;

• Ampliação da rede de wi-fi grátis nas periferias;

• Estabelecimento de fluxo para o abrigo de mulheres em situação de risco de morte com a desburocratização imediata do acesso às Casas-Abrigo para as mulheres, dispondo de um número público que disponha de vagas para o abrigo emergencial em caso de violência, além do acolhimento das demais demandas divulgadas em Nota pela Rede de Prevenção e Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres da Zona Leste (leia aqui);

• Não fechamento do atendimento no hospital de referência em aborto legal, tendo em vista que são procedimentos que não podem esperar e que devem sofrer um aumento de demanda durante o período de confinamento, junto com a violência doméstica;

• Não à diminuição da quantidade de trens e metrôs, evitando assim aglomeração no transporte de trabalhadores de serviços essenciais;

Como medidas para conter a crise, o Centro de Estudos Periféricos recomenda também:

• Taxação das grandes fortunas e vinculação desses recursos ao SUS;

• Suspensão imediata do pagamento dos juros da dívida pública;

• Fim do teto de gastos para saúde e educação.

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