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O que você gostaria que a tecnologia resolvesse na sua quebrada em 2020?

Edição:
Redação

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Na primeira matéria de 2020, a equipe do Quebrada Tech conversou com quatro gestores de projetos de base tecnológica que atuam nas periferias de São Paulo para escutar deles como a tecnologia poderia colaborar para resolver demandas urgentes dos moradores nos territórios onde atuam. 



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Foto: Menino do Drone

Não é de hoje que nas periferias de São Paulo acontece um movimento puxado por moradores que resolvem dedicar parte da sua vida profissional a solucionar problemas em seus bairros, por meio da criação de iniciativas que tem a tecnologia como principal plataforma de impacto social.

Criar plataformas de comunicação digital para divulgação de produtos e serviços, criar espaços de produção de conhecimento sobre inovação tecnológica, instalação de praças de wi-fi em locais descentralizados nos bairros, aprimorar a estrutura da educação pública, combater a violência contra a mulher e ampliar a distribuição de serviços de internet são algumas das demandas estruturantes apontadas por gestores de projetos de tecnologia que também são moradores de territórios periféricos.

Essas áreas citadas por esses atores precisam ser alvo de ações do poder público em parceria com os empreendedores de tecnologia que almejam transformar pra melhor o cotidiano do morador da quebrada. É o que conta Carla Prates, co-fundando do e-Bairro, plataforma de negócios locais que conecta empreendedores do Jardim São Luís, zona sul da cidade, ao enfatizar as suas preocupações com a educação pública e a violência contra a mulher.

“Gostaria que a tecnologia pudesse resolver as deficiências de educação no ensino fundamental e médio, tendo como pressuposto a educação popular e humanista. Pra que as pessoas se tornassem protagonistas da própria história. Outra problemática que a Tecnologia poderia se propor a resolver é a da violência, sobretudo contra a mulher”, diz Prates.

A conectividade entre os moradores também é assunto recorrente na preocupação dos gestores. O empreendedor Ascanio Caracciolo, fundador de uma empresa que fornece internet de fibra óptica para moradores do Jardim Ângela, conta que “seria bom para nossa região aumentar o número de praças com wifi, pra quem não tem condição de acessar internet com fornecimento gratuito”

Caracciolo defende a instalação de pontos de acesso de internet nas linhas de ônibus da quebrada. “Nos ônibus também poderia colocar internet, porque os ônibus que têm wi-fi circulam e mais no centro da cidade e são grandes. Os daqui da quebrada tem tamanho normal, e não tem internet nenhuma e se colocasse nas peruas seria bom também, entendeu.”

O músico Fábio Miranda, criador do projeto Periferia Sustentável, um laboratório que difunde tecnologias de sustentabilidade, preservação do meio ambiente e energias renováveis, reconhece que muitos moradores da quebrada, por falta de espaços de produção de conhecimento, ainda possuem dificuldade para a ver a tecnologia como um meio de produção e soluções de problemas e não somente como produto final.

“Vejo ainda a tecnologia como algo que as pessoas não se sintam capazes de ter acesso ou muito menos achar que tem potencial e a capacidade de desenvolver ‘techs’ de baixo custo, onde e possível trazer soluções básicas para potenciar o espaço onde vivem”, acredita Miranda.

Ele sinaliza a importância de impactar a autoestima dos moradores com a criação de espaços de aprendizagem, para difusão da cultura das tecnologias open source. “as tecnologias abertas podem trazer essa segurança, onde teremos espaços como o Periferia Sustentável, que tenho hoje aqui em nossa comunidade, voltado para criação e desenvolvimento de techs funcionais, onde todos são capazes de encontrar seu ‘professor Pardal’ interno e trabalhar numa rede de ideias e soluções.”

Atento aos impactos da crise econômica na vida de quem mora nas periferias, o empreendedor Bruno Nunes, criador da plataforma JOGA, aposta que a geração de renda e trabalho nas periferias poderia ser melhorada se existisse “um canal com maior divulgação de serviços, lojas e produtos que estão dentro das comunidades”.

Nunes relata que além da dificuldade natural de ter um negócio, a falta de de comunicação entre os serviços e os moradores faz com quem eles optem por serviços mais conhecidos não valorizando a mão de obra da própria comunidade. “Um dos pontos mais importantes é que se a grana da comunidade for revertida para as próprias lojas e serviços da comunidade, pode gerar um aumento de renda no próprio local, além de desenvolver financeiramente pequenos negócios”, afirma.

Um ponto em comum chama a atenção nos depoimentos dos empreendedores entrevistados: todos eles deixam de expor um olhar mais centrado para a sua própria iniciativa, para destacar uma preocupação com melhorias que visam um bem comum na vida dos moradores da quebrada. Isso retrata uma característica importante nesses profissionais, que é o olhar para o outro, na hora de pensar qual tipo de impacto a tecnologia precisa gerar na vida das pessoas em 2020.

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