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Produzida na periferia, arte tecnológica muda cenário de espaços urbanos

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Redação

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A partir de intervenções de vídeo projeção, pixo e grafiti digital, o coletivo Coletores transforma espaços urbanos comuns na vida de moradores de São Paulo em locais de vivência cultural e contato com novas tecnologias.

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Arte Coletivo Coletores, criada para a exposição ‘Resista São Mateus’, realizada na Vila Flávia. (Foto: Coletivo Coletores)

Projetada na parede da casa de moradores da Vila Flávia, bairro localizado no distrito de São Mateus, Zona Leste de São Paulo, a intervenção “Resista São Mateus”, criada pelo coletivo Coletores, exibe a imagem da Marcha de Selma, liderada pelo ativista dos direitos humanos Martin Luther King, em 1965 nos Estados Unidos.

Para quem mora nas periferias de São Paulo e convive rotineiramente com o cenário de moradias aglomeradas, transitando por ruas estreitas, becos, vielas e escadões que estruturam parte desses espaços urbanos, intervenções culturais como esta proposta pelo Coletivo Coletores, tende a provocar uma série de reflexões nos moradores sobre o acesso a tecnologia na quebrada e a subjetividade do território.

“As intervenções com vídeos projeções, seguidas de oficinas e vivências em arte e tecnologia formam a base para se discutir o acesso ao potencial tecnológico da periferia e a produção artística em espaços marcados pela desigualdade e exclusão”, explica o professor Flávio Camargo, integrante do Coletores.

De acordo com Carmargo, o Coletores nasceu da proposta de trabalhar a cidade como meio e suporte para suas ações, a partir de conceitos como arte e jogo, arquitetura do precário, design social, arte interativa e arte relacional, empregando diversas linguagens artísticas, entre elas a instalação, stêncil, web art, fotografia, interfaces de baixas tecnologias, game art, vídeo mapping e publicações impressas.

“Sentimos que ao longo dessa trajetória cresceu o interesse por tecnologia, por arte tecnológica e principalmente pela produção de conteúdo local, apesar das barreiras estruturais impostas. Gostamos de pensar que os impactos da tecnologia não se restringem a nossa poética, mas sim nas formas de pensar a informação e a produção do conhecimento”, argumenta.

Conceitos, linguagens e exposições

Pioneiro em desenvolver intervenções tecnológicas de grande escala nas periferias da zona leste de São Paulo, o coletivo está a 11 anos criando espaços para produção, pesquisa e difusão de novas linguagens artísticas, em ações que circulam tanto as periferias como as regiões centrais da cidade de São Paulo e outros estados.

Intervenção ‘Transmemorial’ que usa vídeo mapping, realizada junto a FLIP 2018 pelo SESC Partaty 2018.

A partir de suas experiências, o Coletores criou uma série de conceitos que se aplicam a construção de novas linguagens artísticas, como o Pixo Digital, Graffiti Digital e a Vídeo Projeção. “Desenvolvemos conceitos que procuram dialogar diretamente com os espaços e a gama de processos artísticos presentes nos grandes centros urbanos”, diz Toni Santos, um dos criadores do coletivo.

Para reinventar a forma como as pessoas interagem e admiram o grafiti e o pixo na cidade, o coletivo usa o Vídeo Mapping, tecnologia que produz projeções em áreas urbanas com superfícies irregulares sem depender de um fundo adequado para exibições de conteúdo audiovisual. Com isso, eles podem usar qualquer estrutura física, independente do local da cidade, para realizar suas intervenções digitais.

Com um histórico de exposições que representam a potência, intelectualidade e a diversidade do seu trabalho, o Coletores já teve suas obras reconhecidas e expostas no Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (FILE), FONLAD FESTIVAL – Festival On Line de Artes Digitais de Portugal, SESC São Paulo, Intercâmbio Brasil/Colômbia, SP Urban, Festival 20 Dimensão em Natal, no Rio Grande do Norte, além de ações educacionais em espaços com Fundação Bienal de SP, SENAC e Instituto Tomie Ohtake.

“Dessas experiências podemos citar entre as mais emblemáticas a série de intervenções em São Mateus, na Vila Flávia, o trabalho ‘Transmemorial’ que realizamos junto a FLIP 2018 pelo SESC Partaty, bem como nossas participações na Bienal de Arte contemporânea de Dakar e na 11ª Bienal de arquitetura de São Paulo”, relembra Santos.

Santos acredita que o grande desafio de produzir tecnologia nas periferias continua sendo o limitado uso dos dispositivos. “Produzir tecnologia na periferia é em primeiro plano, um desafio de romper com os usos habituais dos dispositivos tecnológicos em circulação, como por exemplo: compreender que até o ‘aparelho celular mais simples’ pode ser um meio ou uma ferramenta de criação e produção artística”, avalia.

Ele ressalta que outro desafio consiste na ausência de espaços voltados ao uso de tecnologia nessas regiões. “As poucas iniciativas nessa área seguem sobrecarregadas ou já defasadas em relação ao desenvolvimento das tecnologias de uso pessoal”, aponta ele.

Segundo o integrante do Coletores, uma alternativa sólida para ultrapassar essas barreiras de produção surge no formato do o trabalho em rede que pode possibilitar o compartilhamento de tecnologias, por meio de iniciativas coletivas. “Para romper com a estrutura hegemônica não basta apenas pesquisar e estar atuando em campo é necessário também um trabalho de base pedagógica, socializando a informação e o conhecimento, o que chamamos de pedagogias urbanas”, finaliza.

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